Outro dia perguntaram-me no Union Square quais eram as principais diferenças e semelhanças, da minha experiência, entre os EUA e Portugal.
E eu diria:
E eu diria:
# a comunidade
É uma das coisas mais encantadoras da minha experiência aqui. Presumo que seja uma particularidade deste sítio onde, dos cerca de 80.000 habitantes, um quarto não são caucasianos, e onde existem uma grande fatia da população emigrante - irlandeses, italianos, portugueses (especialmente dos Açores), brasileiros, haitianos, centro-americanos, coreanos, indianos... é um grande melting pot!). E isso faz com que uma grande parte das consultas não seja em língua inglesa, mas em português ou espanhol. Para além da língua, é também interessante lidar com contextos sociais, culturais e religiosos muito diferentes entre si - e com o contacto com uma população emigrante, com a sua percepção e adaptação a um país novo, e com a sua vontade tranversal de não perder a sua própria identidade.
É uma das coisas mais encantadoras da minha experiência aqui. Presumo que seja uma particularidade deste sítio onde, dos cerca de 80.000 habitantes, um quarto não são caucasianos, e onde existem uma grande fatia da população emigrante - irlandeses, italianos, portugueses (especialmente dos Açores), brasileiros, haitianos, centro-americanos, coreanos, indianos... é um grande melting pot!). E isso faz com que uma grande parte das consultas não seja em língua inglesa, mas em português ou espanhol. Para além da língua, é também interessante lidar com contextos sociais, culturais e religiosos muito diferentes entre si - e com o contacto com uma população emigrante, com a sua percepção e adaptação a um país novo, e com a sua vontade tranversal de não perder a sua própria identidade.
# um sistema de saúde baseado nas seguradoras
Isto sim, muda definitivamente tudo.
Vejo muitas vezes pessoas que dizem que não vão comprar a medicação porque a seguradora não a comparticipa, ou comparticipa de forma insuficiente. Se por algum motivo o doente tiver alguma alergia ou algum efeito lateral ao fármaco de escolha de primeira linha, o médico tem que escrever um requerimento formal à seguradora a pedir a comparticipação de um fármaco de segunda linha - de outra forma não será comparticipado. E isto demora, até lá.
Isto sim, muda definitivamente tudo.
Vejo muitas vezes pessoas que dizem que não vão comprar a medicação porque a seguradora não a comparticipa, ou comparticipa de forma insuficiente. Se por algum motivo o doente tiver alguma alergia ou algum efeito lateral ao fármaco de escolha de primeira linha, o médico tem que escrever um requerimento formal à seguradora a pedir a comparticipação de um fármaco de segunda linha - de outra forma não será comparticipado. E isto demora, até lá.
Quando vêm pedir um check-up de rotina, cada um dos pedidos de análises (perfil hepático, renal, hemograma) é discutido até à exaustão com o doente, de forma a perceber se é realmente pertinente pedir cada um deles - e muitas das vezes os doentes fazem as contas e eles próprios estabelecem algumas prioridades entre prioridades.
A Medicare, uma das principais seguradoras, começou apenas em 2001 a (com)participar o rastreio do cancro do cólon.
O Médico de Família aqui é bastante mais interventivo - como os dermatologistas lhes demoram a responder em tempo útil, eles próprios fazem todas as coisas mais simples de pequena cirurgia, como tirar sinais benignos, tratar verrugas, crioterapia. Também fazem muito mais ginecologia, mesmo excluindo a questão de fazerem eles próprios os partos (ecografias obstétricas, biópsias, colposcopias).
# os sistemas de informação
Têm um sistema onde toda a informação do doente está concentrada (quer a do centro de saúde, quer a hospitalar, quer a de referenciações externas), o que facilita muito as coisas.
Têm a chatice de ter que fazer registos extensíssimos para justificar os procedimentos e prescrições às seguradoras - mas têm também um sistema de introdução dos dados em que preenchem uma checklist e que escreve a partir daí uma história clínica em texto, direitinha e detalhada.
Têm uma base de dados a partir da qual podem imprimir conselhos sobre quase tudo para dar aos doentes, basta procurar por tema.
# os sistemas de informação
Têm um sistema onde toda a informação do doente está concentrada (quer a do centro de saúde, quer a hospitalar, quer a de referenciações externas), o que facilita muito as coisas.
Têm a chatice de ter que fazer registos extensíssimos para justificar os procedimentos e prescrições às seguradoras - mas têm também um sistema de introdução dos dados em que preenchem uma checklist e que escreve a partir daí uma história clínica em texto, direitinha e detalhada.
Têm uma base de dados a partir da qual podem imprimir conselhos sobre quase tudo para dar aos doentes, basta procurar por tema.
# uma surpresa
efectivamente "ver" doentes é muito parecido - a mesma abordagem, a mesma colheita de história clínica e exame físico, a mesma orientação, as mesmas prescrições. E isto sim, foi curioso para mim - e uma confirmação que, com todos os seus problemas, o nosso sistema de saúde tem realmente muitas coisas boas.
[e sim, os miúdos são igualmente queridos, e já tenho alguns desenhos deles para a minha colecção :))]
[e sim, os miúdos são igualmente queridos, e já tenho alguns desenhos deles para a minha colecção :))]
E é bom quando saímos e nos apercebemos que realmente o que temos em casa é muito bom. Agora só faltava mais uns 10 milhões de pessoas vissem isso e passassem menos tempo a queixarem-se :D
ResponderEliminaracredita! quando penso nos meus doentes aí, no preço de um checkup completo, com tudo a que tem direito, na facilidade com que podem marcar consulta no próprio dia ou pedir medicação, penso que eles têm realmente muita sorte.
ResponderEliminarclaro que isto é para quem tem um médico de família - e não se pode esquecer que muita gente não tem, ou tem em sítios onde as coisas funcionam mal. eu própria tenho algumas dificuldades em conseguir marcar alguma coisa com o meu médico de família :)), mas claro, tudo depende dos sítios. e acredito que estamos a melhorar, muito.